Canção da Expatriação, Voluntária ou
Forçada de um Indivíduo
(Poema Original: "Canção do Exílio",
Gonçalves Dias)
Certa vez, depois de estudar um bocado, resolvi que poderia ser bom ler um
poema para "esfriar" um pouco a cabeça. Doce engano, nada era
como antes, quando as palavras do poema eram apenas as palavras que estavam
escritas. Enquanto lia, percebi que, para mim, o poema havia mudado...
Minha terra tem Areca catechu,
Onde canta o Turdus rufiventris;
Os vertebrados alados, tetrápodes, endotérmicos, ovíparos,
que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais esferas auto-gravitantes de gás ionizado,
Nossas várzeas têm mais gonadas angiospérmicas,
Nossas formações florestais com cobertura descontínua têm
mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem Areca catechu,
Onde canta o Turdus rufiventris.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar -sozinho, à noite-
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem Areca catechu,
Onde canta o Turdus rufiventris.
Não permita Deus que minhas funções orgânicas se
encerrem,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as Areca catechu,
Onde canta o Turdus rufiventris.
(Gustavo Pessoa)
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