Laringe
Bem naquele momento que se lembra
O que passou naquele dia mal agourento
Alento de pavor suprema fleuma
Torpor de uma lasca ruim, de sofrimento
E quem pode dizer do que se lembra
Se até quem viu de perto já dizia
A fria pia imunda que se emenda
Com o fim daquela rua que não ia
Vinha e partia
Passava e repetia
Aquela vida em duas vias
Amaldiçoam o arquiteto lá do gueto
Que de invento só o salão como obra prima
E intento aquela porta para a rua
A sua torta homenagem a Maria
Não tem muro que me tape aquela cena
Mas tinha ao lado de quem corria
Vinha a via que cruzava com a porta
E o carro que cruzava com Maria
Ela ria da noticia da revista
Tendo em vista o jantar das dez e meia
Mas nem ceia sobrou pra pobre mestiça
Pois a guia foi sua ultima companheira
Quem via não dizia
Que Maria não vivia
E a culpa cai sobre a cabeça de toda a gente
Mas mente quem julga saber o verdadeiro culpado
Nem o arquiteto, nem o motorista, nem o repórter, nem a amiga
Ninguém naquela tarde foi investigado
No geral
Não se preocuparam mais com Maria do que com aquele carro amassado
Maria perdia o ar com velocidade
Com a mesma que o motorista escapava
Maria engasgava com saliva
E o senhor Silva pro outro lado acelerava
Maria parecia intocada
A revista pairava no meio fio amassada
Uma menina pegou a revista animada
A separação daquele jogador foi muito engraçada
Maria naquela noite não encontrou a amiga
Agonizou rápido, sem ar e mal parecia aflita
Sufocou quase que sorrindo
E quem vinha e via não se apavorava
O resgate que chamaram tarde nunca que chegava
E entre essas passagens longas a vida de Maria se extingue
Mas quem liga se foi por culpa da Laringe
(Gustavo Fiali)
|