Meretriz Celestina
Via tempo, em que perdia
Virgindade ou serventia
Corpo nu, menina frigida
Frigida alma, de corpo nu
A inocência que perdi nos tempos bons
Perdi a farsa, pedra e pau de quem me leva
Leva a si, eu latifúndio e laço rosa
Terra de mim mesma, a quem não pertenço
À indecência, submeti os meus grilhões
Vento de tundra, funda seca nos culhões
Rica de doença, sofre calor
Calor de perder de vista meu honesto bom humor
A insensatez menina
É meretriz celestina
De pobre e crua leva sina
Pasma, Liz da morte na retina
Cruza em contato com a terra
Serra o horizonte que contorna
Contorna com estandarte de Atena
Verbena que em sonhos, vê de monte
Luza parte fria do descaso
Caso de luxúria iconoclasta
Casta bem à parte da mortalha
Talha morte e falha o entusiasta
De quem vê o que não quer
E quem quer ver o que puder
E poder ver o que vier
Vim ver poder, e quem não quer?
A insensatez menina
É meretriz celestina
De pobre e crua leva sina
Pasma, Liz da morte na retina
Fina pela que aglutina
Perde pela luz que lhe alumina
Vida seca e a sede lhe sublima
Celestina
(Gustavo Fiali)
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