um deus que dorme
há em mim um deus que dorme
de braços cruzados sobre o peito;
sonha e não acredita no que vê,
como um pássaro engaiolado
não crê no azul além da janela,
nem na memória das asas;
ninguém me diga que é louco
o mendigo que balbucia palavras
como rastos de espuma, ou nuvens
apressadas; eu acho que morri,
senão porque me cruzariam os braços,
assim, sobre o peito silencioso?
ninguém diga que o poeta é louco,
quando as palavras lhe escapam
da boca, como gritos de sangue:
- louco sou eu que estou calado;
mas, se morri, porque sonho ainda?
(19-02-2005)
(Gonçalo de Sousa)
|