o caos suspenso da palavra
sempre o caos aguarda uma palavra sem dono;
o seixo polido por tantas bocas ávidas esquece a mão que o lança.
porém, alargam os círculos na água, infinitamente.
a posse atraiçoa a essência das coisas que acrescentam ao espírito.
a luz de um poeta, dá-se a todos, como o pão; fixa, extingue-se.
sobe a maré: a fria água lustral, o sal da vida,
tudo vem ao encontro da tua alma e dos ossos que a suportam.
o poder das coisas ditas assombra os receios da carne,
pois que tudo purifica - quem ficará de mim?
assombra-me a visão do caos suspenso da palavra.
(Almada, NetPool, 17-04-2005)
(Gonçalo de Sousa)
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