A Garganta da Serpente

Giuliano Valverde da Silva

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Vida e Morte sob a Égide do Amor

O caos do mundo desfez-se a um só tempo
Quando vi teu sorriso sob o céu azul e límpido
Parecia-me que as nuvens iriam descer
Cumprimentar-me por anos de contemplação
Desejar-me boa sorte nas coisas da vida
No entanto, despertei
Tudo virou nada em um segundo

No instante em que a montanha curvou-se
Vi sair detrás dela uma sorridente menina
Que com seus longos cabelos a todos cativava
Como a água ao tocar as pétalas de uma rosa vespertina
Que acordava

O sonolento pássaro do amanhã por mim passou
Seu canto era magistral, suas cores vivas
Como aquilo que se vê no fim de uma noite chuvosa
Quando o choro se dispersa naquilo que ainda há de ser
E que será
A trama do destino fechando-se
O grand finale

Soou no romper do mistério lúgubre
O ranger de dentes de um lobo negro
Que ao perseguir sua presa é sábio e paciente
Como o falcão ao descer o vale, sedento
Por sua presa dócil e pujante

Dobraram-se os sinos por tudo e por todos
Não haveria mais trevas entre os homens
Porém a luz dia deu-se conta
De que não era mais bem-vinda
Recolheu-se em seu apogeu triste e só
Desmentiu falsos segredos da noite

Fizeram-se ouvir as trombetas dos Anjos
Quando deixamos de amar uns aos outros
E decidimos lutar por nós mesmos
Com sangue nas mãos erguemos o mundo
O qual chamamos de lar e vivemos a destruir

Entre os prédios que no alto despontavam
Creio ter visto um corvo a voar
Em meio a mais tóxica felicidade
Vi-o morrer vagarosamente


(Giuliano Valverde da Silva)


voltar última atualização: 10/10/2003
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