Canção do Vento
Vento que passa cantando
em melodia ora doce ora selvagem
ora em lamentos suspirando.
Não descrevemos a sua imagem
mas está sempre nos tocando
fazendo-nos ouvir a sua linguagem.
Desce aos vales com suavidade
sobe montanhas com vigor na ascenção
dispersando-se com leve graciosidade.
Escreve nas águas dos lagos uma canção
libertando-as de sua imobilidade;
apaga-a, indiferente, como o poeta em criação.
No outono geme através das folhagens
que ecoam com o seu lamento.
No inverno quebra-lhes a ramagem;
na primavera, tímido e sem agitamento,
move-se entre as novas roupagens
e no verão se esconde, sonolento.
Carrega no ar o perfume das flores
e em seus ouvidos segredos murmura
espalhando na relva pétalas multicores.
Sacode as ondas do oceano com bravura;
ao mesmo tempo é brisa macia, de amores,
que acaricia os cabelos com brandura.
Movendo-se incessante, sem aviso,
ora se demora, ora se apressa. Sem hesitação
é o mensageiro que chega de improviso
trazendo notícias decisivas, palpitações.
Para onde leverá os corações, o sorriso,
os suspiros, as almas, as aspirações?
Leva-os para além do horizonte - o paraíso
onde o angustiado deixa suas canções,
o desesperado, fragmentos do coração indeciso,
o oprimido, seus suspiros e aspirações,
o estranho, seu desejo oculto, seu juízo,
e o abandonado, as suas grandes aflições.
(Giulia Dummont)
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