A Garganta da Serpente

Geslaney Brito

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Genealogia

Queria ter outra árvore dessa em meu quintal
Se não no meu quintal, que fosse no teu
Ou que fosse no mesmo caminho da tua casa
Ou que fosse na praça mais próxima dali
Interessa saber é que fosse uma árvore
Interessa saber é que estivesse próxima
E que atrapalhasse o progresso
Que agasalhasse com suas folhagens
Todas as chuvas, todos dezembros, todo solzinho
Todos os pensamentos e ninhos, todo avozinho

Queria mesmo era que fosse de fruta e tronco
Podia ser estro, podia ser grito, podia ser canto
Podia ser um dedilhado de cordas trocadas
Mas que tivesse galhos, gritos, crivos, sombras
Mas que tivesse falha, gruta, graça, crianças
E que arremessasse o pouco afeto
Que se apresentasse mesmo, como árvore
Todas as folhas, todos os Maios, toda florada
Toda meada, toda solidão em meias palavras

Queria mesmo era nos dedicar qualquer sombra
Que fosse do tempo em que havia sorriso
Se não dos quintais, que fosse da rua que fosse
Se não da rua, que fosse da praça que fosse
Mas que tivesse árvore, gente, gomos e banjos
Mas que tivesse vozes, coros, cores, arpejos
E que arredasse daqui pra longe
E que jogasse pra longe o aziago
Aquele de coisa pronta e acabada que nos forçam
Aquele que de tanta falta de raiz, não se reinventa

Queria a pimenta que cala e canta quando preciso
A amêndoa de caldo na boca e o fundo do mantra
E mais os quintais coletivos, com cara de praça e pipoca


(Geslaney Brito)


voltar última atualização: 07/10/2010
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