A Garganta da Serpente

Geslaney Brito

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Canto de Parede

Cômodo da palha do chapéu trabalhador
Há uma fuligem do que do que fora festa
E o grão escapulido da última colheita
Um cisco que iria dar com os olhos
Que sonhavam
O fim da linha que estivera a emendar
A farda da escola desbotada e rosa
O fio de lua, quando "luar" apaixonava mais

Está escrito o pó em modo contínuo
O pó que fora varrido da mobília da sala
Junto ao que saiu do meio da garganta

Está escrito um grito e uma saudade
Um sol de micro-cosmos, de poeira
E a poesia que anda em vias de martírio
A marca do joelho dos fiéis de oratório
O rastro do castigo dado aos meninos
E a fuga, figurando a própria anistia

Há o que luzia como botão de madrepérola
E agora, espera, lá naquele canto de parede
Como a quem decanta sua saudade fosca
Há o que fremia como a um beijo despedida
E agora treme o frio de não reencontrar

No canto da parede está o que não resta
E que retorna em algum instante, aos quadros
Está escrito a trajetória, feita com raspa de panela
E algum pedaço do pedaço, do pedaço do telhado
Com uns furos que presenteavam-nos com estrelas
Vez em quando, umas goteiras de desesperar "irmãe"
E ao mesmo tempo, alimentar nossa folia


(Geslaney Brito)


voltar última atualização: 07/10/2010
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