A Garganta da Serpente

Geslaney Brito

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Assim passa...

Fica no ar a trajetória das nuvens
O edifício empurra pra cima, pra longe
E arranha o proferir de alguns versos
Que seriam de plantas pequenas
Como aquelas pegadas que não ficam
Se não, em alguma cena de filme
Que fala de planta, pegada e de nuvem
Não presta pintar o mundo correndo
Nem tirar foto do que já foi triturado
Mastiga-se então a couraça do novo
Mesmo com medo do que se revelará
Mesmo com a mesma saudade de ontem
(um lugar onde as casas não morrem)

Fica no ar a trajetória dos loucos
Como fumaça do fogo esquecido
A fogueira que luta com os paus que tem
Vai perdendo a briga pro avanço
Não do tempo, mas da fornalha
Que produz o que é necessariamente
Alheio à nossa fome, frio e sede
E completamente fora do nosso prazer
De dizer que há de ser bom, esse dia
Esses dias havia uma sombra de copa
E a copa deu seu lugar para o banco
E o banco cedeu seu lugar para ninguém
(que cheiro tinham mesmo aquelas flores?)

Fica no ar a trajetória dos homens...
O edifício empurra pra baixo, pra nunca
E desconhece quem é passível de beijo
Quem é passivo e tem condição de herói
Quem está pensando como astronauta
Mesmo vendendo sonho e algodão-doce
Só pra levar para casa o arroz-e-feijão
Não presta arrumar o mundo cansado
Nem se deitar em nenhuma varanda
Experimenta-se então varrer o cotidiano
Mesmo com medo do que está na poeira
Ou por detrás dos móveis que mudaram
(sem mudar o aspecto de austeridade)


(Geslaney Brito)


voltar última atualização: 07/10/2010
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