A Garganta da Serpente

Geslaney Brito

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Pererê

Eu não vim da mesma rua que você
Mas a lua enluarava o mesmo tanto
Quanto o seu olhar de oceano
De uma cor de coisas grandes
De um tamanho pensamento
Como viagens

Eu não vim do mesmo rio que você, amor
Mas eu navegava e ria, no lugar em que eu podia
E ainda tinha um vôo desses de tirar rasante
Sobre as dunas; sobre as torres; sobre as telhas
Sobre as toalhas; sobretudo, sobre os quintais
Como vitrais.

Vim de Samurai, de pé-de-vento e Pererê
Pensando ipê florindo; vendo você sorrindo
Assim haikai
Tupi e milharais dizendo que podemos ser iguais
Em consideração ao sol, em qualquer ponto de vista

Eu não passei nos seus ladrilhos, meu amor
Mas, de onde eu vim, brilhava uma cantiga
Que entrava e saía das janelas azulzinhas
Da igreja bem misteriosa, como poesia
Como esse teu sorriso que saltita reluzente
Como as cores de Natal e roupa de Madarim
Assim: bola de gude

E o brilho dos açudes que talvez você banhou
Quando passou por lá, quando pousou por lá
Mergulho, nobreza, porcelana chinesa, cristal
O sim e o talvez, de fim de história... que fica
no ar
Como nas lendas

De onde eu vim, trinava um canto mediato
De umas folias que até hoje me iluminam
E quando penso qual presente vou te dar
Eu retiro dos reizados, do andor da imaculada
Das fitinhas coloridas que fremiam e fremiam
Das bandeiras que abriam meus caminhos
Assim: estrelas

Eu vim e tinha o mar que não era de ninguém
De onde tirei um porto sem mágoas pra te dar
Amar, não sei se aprendi o tanto. Tento e tento
Como eu tento ser leve, como você sempre me é
Como a um bule de café em cima do fogão
Como a um azulão em sua forma de aparecer
Assim... como a fé


(Geslaney Brito)


voltar última atualização: 07/10/2010
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