A Garganta da Serpente

Francisco Coutinho

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MURMÚRIOS

Esparsas dores de furões endurecidos. Viram dentro de um caixão emoldurado. Sou a densa forma de vários alaridos, ante a fúria de um cantor aloprado.
Tenho a vida escancarada, aberta e trêmula. E um súbito universo, torto, meio, começo, fim de tudo, sem sentido é o ar que respiro. Não me olhes, cara dura, me entristece o sabor de derrota na berlinda. Como a águia que incendeia as idéias em um ponto de vaguidão. Tenho as formas estouradas em sussurros, são inúteis idéias que me elevam e transpiro, alvo fúnebre é o clarão do olho. A carcaça de meu corpo em movimento. Quero explodir em movimento e desafiar o verbo. Ágora é meu peito aberto para receber o ensinamento maior e perfurar os clarões das idéias, forte mãe dos homens, não-verdade fiel que se mostra ensolarada na companhia de serafins. A nobreza das idéias não-uniformes. O nada que se mostra enaltecido. São as fases do homem que sucumbe a razão destruidora dos sentidos. Vã dormência, poesia inútil por excelência. Restou livre ao escrever tal promessa de uma era, inevitável morte. Canhestro ser quando pensa, em verdade, que venha a se desmantelar suas razões e sua moral arcaica e sem brilho. E assim caminhará o homem forte, sem estrada, sem desejos e sem murmúrios para si.


(Francisco Coutinho)


voltar última atualização: 05/11/2007
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