MURMÚRIOS
Esparsas dores de furões endurecidos. Viram dentro de um caixão
emoldurado. Sou a densa forma de vários alaridos, ante a fúria
de um cantor aloprado.
Tenho a vida escancarada, aberta e trêmula. E um súbito universo,
torto, meio, começo, fim de tudo, sem sentido é o ar que respiro.
Não me olhes, cara dura, me entristece o sabor de derrota na berlinda.
Como a águia que incendeia as idéias em um ponto de vaguidão.
Tenho as formas estouradas em sussurros, são inúteis idéias
que me elevam e transpiro, alvo fúnebre é o clarão do olho.
A carcaça de meu corpo em movimento. Quero explodir em movimento e desafiar
o verbo. Ágora é meu peito aberto para receber o ensinamento maior
e perfurar os clarões das idéias, forte mãe dos homens,
não-verdade fiel que se mostra ensolarada na companhia de serafins. A
nobreza das idéias não-uniformes. O nada que se mostra enaltecido.
São as fases do homem que sucumbe a razão destruidora dos sentidos.
Vã dormência, poesia inútil por excelência. Restou
livre ao escrever tal promessa de uma era, inevitável morte. Canhestro
ser quando pensa, em verdade, que venha a se desmantelar suas razões
e sua moral arcaica e sem brilho. E assim caminhará o homem forte, sem
estrada, sem desejos e sem murmúrios para si.
(Francisco Coutinho)
|