Maior tortura
Sou a sombra profunda dos espaços
Eu sou a dor dum pobre enlouquecido
Ergo aos céus mudos meus braços
E o céu é sempre azul e sempre mudo.
À terra não me prendem nenhuns laços,
Perco-me em mim na dor de ter vivido!
E não tenho a doçura duns abraços
Que me façam sorrir de ter nascido!
Sou como tu um cardo desprezado,
A urze que se pisa sob os pés,
Sou como tu um riso desgraçado!
Mas a minha Tortura inda é maior:
Não ser Poeta assim como tu és
Para falar assim da minha Dor!
(Florbela Espanca)
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