A Garganta da Serpente

Fernando Gregório

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Bem sabes...

Bem sabes amor que cada casa

guarda secretamente

todas as nossas palavras dúbias.

Aquelas palavras que nós escondemos

nas trevas

aquelas palavras que os nossos amigos

jamais pressentirão.

E depois resta este cansado silêncio

este antigo silêncio doméstico,

como esse gato que dorme
junto aos teus lábios frios,

e ainda sobram todas as palavras encobertas.

Mas tudo o que me dizias, ainda

fazia parte desse velho pacto clandestino,
onde as palavras se aproximavam
dos desertos que antes só para nós declamavas.

Meu amor, agora tudo se transformou

pois os dias agora tornaram-se ermos
e um quotidiano negligente circula

entre edifícios intrincados e indecifráveis,
é pois assim amplíssima

a distância do que agora dizemos.

E assim, neste mal entendido, frequentamos

o desconhecimento de tudo o que escutamos e dizemos.


(Fernando Gregório)


voltar última atualização: 28/02/2009
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