PROSTITUTA
Sinto-me perdido como um maestro
Sem banda ou orquestra
Sem música e harmonia
Sem letra ou ritmo
Sem palco e batuta
Sem público e sem ouvido
Surdo e mudo
Sem canto ou cântico
Sigo-me triste e infeliz
Sina de meretriz
Sinistra obra sem autor
Sombra do abandono e do desamor
Servindo-me de migalhas
Sigo adiante nessa vida curta
Sangue que jorra e pára
Sem coagular
Suor e lágrimas perdidas
Salivando língua e vara
Sonata de flauta e citara
Sofrida vida fodida
Sacrifício em vão
Servindo o cidadão
Sagrado vício dos fracos
Sêmen velho guardado em novo frasco
Sedutora figura de lamúria e fiasco
Serviço verticalizado
Sem horizonte
Salário de fome
Servidão passiva
Severa mulher ativa
Semente improdutiva
Sinto-me mais que usada
Sirvo-me do teu corpo
Servindo-te do meu gasto corpo
Seviciando infante homem novo
Sexo sem nexo e tolo
Servidora pública
Sem concurso
Sem remuneração
Sem direito a amor
Sem o pulsar do coração
Sugado suco das entranhas
Sulco da terra infértil
Servil criatura pura
Sedenta e alegre
Nada puta
(Eustáquio Mário Ribeiro Braga)
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