A Garganta da Serpente

Eustáquio Mário Ribeiro Braga

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AUTO-RETRATO II

Meu Retrato na parede
Camufla toda tristeza, dor, remorso,
Abandono, fome e toda sede.
Rede armada e esquecida
Recolhida marca latente
Ardente chaga da ferida
Alegria quase incontida
Prazer sempre reprimido
Ou apenas à vontade do corpo comprimido
E um louco desejo de voar...

Fui enquadrado
Estou cercado entre traços
Emaranhado de letras mortas
Emoldurado ser que pensou ser livre...

Meu retrato na tela
Cela de riscos e tortas imagens
Paisagens replicadas
De Mutiladas fantasias
Treplicados devaneios
Seios e púbis à mostra
Terrenos fêmeos inexplorados
Tudo é contemplação
Imaginação fertilizada
Inspiração de criativas mãos
Sanas mentes que brilham
Trilham caminhos e clareiras
Esteiras que confundem sentidos
Luz e apagado holofote
Espíritos sem rumo
Almas sem norte
Perdidas palavras soltas
Que tentam repintar um quadro
Mas sobra apenas um mosaico
Quando o quadro é jogado ao chão
Inocente tapete que recebe todo pó
Nó na garganta que engole sapo
Bafo de bebida barata
Hálito de cabo de guarda-chuva
E a luz do sol que mutila imagens

Meu retrato em movimento
Ciumento ser hiper-ativo
Altivo escultor de palavras
Tendo as Letras como companhia

Pintor sem tinta ou pincel
Cinzel que tudo modela
Tela que se pinta sem perceber
E a tinta branca do tempo que se destaca
Estaca que aguarda a última imagem

Fui enquadrado
Estou cercado entre traços
Emaranhado de letras mortas
Emoldurado ser que pensou ser livre...


(Eustáquio Mário Ribeiro Braga)


voltar última atualização: 27/08/2007
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