Em Memória Daqueles Que Cantaram Ulisses
I
Faço o poema à guerra
pedindo para não sujar as mãos.
Alguns homens tornam-se lendas
quando surgem guerreiros ao leste
sob o sol a pino, de repente,
sedimenta-se, mármore, estátuas.
Talvez voz trazida no trovão
tenha substância pássaro de fogo.
Quiçá trovão de ave
flua pomba para sobrevoar,
gesto de pálida ignota mensagem.
Talvez, o que enerve nas guerras
são as pobres vozes, carcomidas
em andrajos vermes à mesa
II
Estas palavras nobres que aí estão,
me preservem de futura censura,
a chave e a mais secreta licença.
Se me tranco no poema,
entristeço-me, porque a voz,
não seja capaz de encantar o espírito
dos homens que tecem armas.
Para aqueles que não compreenderam
o espírito de Ulisses, a desenvoltura,
ao semearem trevas, noite leve pouse
perto da sepultura, buquê trazido
pela insípida bomba.
III
Não havendo vida,
cambaleia toda sombra;
não havendo mais sombra
cambaleia toda a lenda;
Não havendo mais lenda,
silencia-se esse poema,
e, o que nele traduziu-se.
(Eric Ponty)
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