A Garganta da Serpente

Emil de Castro

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

AUTO DO PISTOLEIRO

1 O CHAPÉU TOMBADO NA TESTA

Pode cair o cavalo
o cavaleiro
a donzela
o chapéu não cai.

Vento furacão
ciclone sopre
o demo
o chapéu não sai.

Pode a bala atingir
o dono
fica o chapéu.

 

2- A BOTA, FIVELA E LÉGUAS

Bota o chapéu na cabeça
o pistoleiro
a bota nos pés.

Longo cano fivela
de prata
de lua
composto o viajeiro.

Rompe estrada cerca farpada
a bota se eterniza
mil léguas.

 

3- ESPORA, ESPORÃO, ESTRELA

Ginga o cavalo, retesa
os músculos
bíceps
osculando o vento
risca a espora faiscante a rocha.

Rascante relinchos
estilhaçada manhã
no salto frontal do macho
espora esporão estrela
arranca a paisagem de suas patas
que a sina é de pistoleiro
o cão.

 

4. COLDRE BAIXO, PONTARIA CERTA

Não é menos que o revólver
o coldre,
como o punhal não é menos
que a bainha,
como a espora não é menos
que a barriga do cavalo,
como a bota não é menos
que os pés,
como o estribo não é menos
que a cinta,
como a sela não é menos
que o chapéu.

O coldre é.
Se baixo, pontaria certa.

 

5- O REVÓLVER SEM PISTOLEIRO ?

Sem bala o revólver não é.
Nem sim.
Como sino sem dão-
la-lão,
porteira sem gente
pra abrir,
cabresto sem dentes
que se amarre,
ferradura sem travo,
pra aferrar o casco.
Revólver não é : flor,
Nem não.

Sem pistoleiro
se esconde no coldre
se aninha como ovo
na cartucheira
a bala sem revólver,
o pistoleiro sem gente
pra matar se morre.


(Emil de Castro)


voltar última atualização: 19/01/2011
10181 visitas desde 07/07/2010

Poemas deste autor:

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente