buscaste lenitivo para as pontiagudas dores do tempo
na suavidade das mesmas palavras precisas
q/ outrora cantaram os homens capazes e os filósofos de bronze
&ntretanto não louvaste os heróis antigos
ou sua memória orgulhosa.
cantaste ao fresco terror presente
& o brilho tardio de certos delírios febris
pinçando na ponta dos dedos pequenos diamantes de alegria
na borda traidora dos abismos.
não morreras sem antes
cobrir com tua boca vermelha a boca
& outras partes íntimas das melhores mulheres.
na hora da morte
o inevitável mergulho se dará
sem choque nem açoite & toda carne folgada
na fluida caricia das águas
delindo amargas memórias no caustico leito do Letes
& rejubilando queda exausta após
sob o a sombra pedregosa do nada
que se adivinha atrás do muro.
em festa os músculos desprezos dos ossos
emergirão recompostos, uma ultima vez
& a espinha será uma naja no asana do bote
& os tendões hirtos já desaflitos
permitirão total harmonia de movimentos ainda
inauditos.
Já não há culpa nem apego nem desejos
Dorme sem sonhos o poeta maldito sob o frio lago de vidro.
(Emanuel Flávio Fiel Pavoni)
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