A Garganta da Serpente

Elza Fraga

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PRA QUANDO CHEGAR MEU OUTONO

Quando enfim
me despir do cansaço
abrir os meus braços
fizer a comida
preparar a bebida
arrumar o meu colo

te chamo pra vida.

Quando enfim
eu limpar os meus olhos,
arrumar meu vestido
com os poemas paridos
e a tristeza for embora
pra lá do infinito

te mando notícias.

Quando enfim
a alma pequena
alçar céus imensos
se prender
nas estrelas
pra que eu nem mais veja
os rios correndo
descendo ladeiras
no mar se perdendo

te armo a mesa.

Quando enfim
os meus olhos secarem
e a matéria nem sangre
mais
os suores das dores,
e me nascerem flores
em cada orifício
jamais explorado

te dou meu ofício,
meu corpo, meu carma,
e meus estertores

te dou minha alma
-o chão onde piso,
em troca
de um riso
suave, sereno

te dou meus favores
amarelecendo
em cores
de um outono
de folhas pisadas
ao sabor da sorte

re-nascendo
da boca da morte

no vento.


(Elza Fraga)


voltar última atualização: 11/08/2009
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