Quando eu estiver versejando...Minha poesia é a esposa da minha alma, que fala através dela. Eu seguro a minha pena autoral, acende-se em mim um fogo espiritual. Rasgo com meus dentes, as veias do meu pulso, que pulsa e a tinta que faço escorrer no tinteiro é o do meu próprio sangue. Grito ao mundo um berro rasgado, doloroso, manchado de vermelho. Proíbo-te de tocar-me enquanto escrevo, neste momento sou sagrado, sou um deus verdadeiro. Se escuse de pronunciar meu nome, sendo assim, não me chame, enquanto versejo em meu inferno sagrado e profano, em meu céu de delícias. Quando faço minha poesia sangrenta, é a Deus que procuro. Mergulho
no abismo para encontrá-lo e subo como um ser alado ás alturas,
com a intenção de invocá-lo. Quando passares perto da porta do quarto aonde escrevo, inebriado pela poesia, se escutares algumas vozes, não se assuste, pois são poetas mortos, mestres escritores conversando comigo, são Dante e Virgilio, Baudelaire e Arthur Rimbaud. Nas horas do meu versejar, não ponha um disco na vitrola, enchendo o ar com música, nem aja como uma tola ciumenta, querendo me ver parar de escrever. Não permita minha querida, que as crianças elevem suas vozes pelo corredor, quebrando o sagrado silêncio, expulsando de perto do meu ouvido a boca da musa, que me inspira o poema, causando com seu afastamento, tremenda dor. Entenda que, enquanto versejo, brilho como ouro a refulgir sob o fogo aceso. Enquanto versejo crio um rico tesouro, o mais valioso já visto em todo mundo. Enquanto versejo sou uma estrela cadente que aos poucos se extingui, sumindo, morrendo no poente. (Elton das Neves o Anjo das Letras) |