Sumos fabricados
Somos o que somos, sem saber porque somos
No bolor das coisas migalhas do que não fomos
Varridas pelo não-ser-nunca, pra fora daqui e dos sonhos
Do que nunca nos fizemos, somos o que de nós fizeram
Somos o que nos coube ser, e no ser não coube querer
Cedemos ao arbítrio de cada toque de recolher
E assim nos fizemos títeres, de nosso meio, de nosso tempo...
Somos o que somos, momos em papéis circenses
Pássaros engaiolados convidados a voar
Com asas atrofiadas não soubemos arriscar
Pois o tombo de ser livre fere mais que a escravidão
Somos o que somos: sumos fabricados
À venda em embalagens sem códigos de barra
Somos o que não fomos, o que não somos nem seremos
O verso sombrio do que poderíamos ser
Das mil vidas possíveis que retumbam no infinito...
(Eduardo Pacetta)
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