A Garganta da Serpente

Eduardo E.

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O Mais Antigo dos Antigos

Não existe motivo algum
Para o silêncio
Para a paz duradoura
Para a primazia da razão pura
A luz atormenta-me
Todos os dias
Derrubo estrelas do firmamento
Visto-me de sedas antigas
Vejo meus inimigos
Do alto de uma imensa montanha
De cadáveres
Do passado eu sei
Que virá o dia da revanche
E o oprimido de coração
Terá seu jugo multiplicado
Enquanto o orbe do mundo
Se curva sob meus pés
De asas abertas
A alva estrela matutina
Perdura para sempre
Sobre mortos e moribundos
Sobre o horror
Que se esconde naquela clareira
No meio deste bosque infernal
E belo
Pelo poder do grito da criança
Os céus opalinos
Se fendem
Os anjos surdos e indiferentes
Caem tragados por uma torpe espiral
Das mãos
O sangue
Do sangue
A dor
Da dor
Luta e transformação
Não sou o homem que esperam que seja
Sou o criador
De mundos opressivos
E grotescos
De arabescos nos umbrais de minha porta
O rastejante caos
Nidificado sobre um vale tranqüilo
E mortal de ossos secos
Em minhas mãos
Carrego aquele Rolo Mortal
De que o louco profeta falou outrora
Pelos cantos dos olhos
Vejo o Tempo
Banqueteando-se de vida
Carne e vinho
Matando-me devagar
Com unhas de ferro
Penetrantes como o frio
Dos vales ao sul das terras devastadas
Arraste-me enquanto pode
Filho bastardo da Extinção
Leve-me àquele sonho
Límpido sobre a crina do leão
Transforme esta forma decadente
No final de todas as coisas
E que a canção não ouvida
Esteja lá
Esperando-me sob as vestes
Da Lua minguante e seu manto lírico
Case-se comigo Filho da Extinção
Sonhe comigo sobre vales
E sob o mar
Permaneça como os antigos deuses de outrora
Dormindo e sonhando
Enquanto o chamado não vem
Enquanto o estridente sonido
Dos sinos de barro
Não anunciam a chegada
Do Barão e seu terrível cortejo de bestas
Armado até os dentes
Conclamo os Jovens Mestres
Para comigo lutarem
Até que os sentidos adormeçam
Sobre a relva fresca da manhã
Exponho diante do Firmamento
As cores duplas do brasão de minha alma
A ambigüidade andrógina
Dos traços de minha carne
Perenemente jovem e alquebrada
Sob os signos do poente
Todos procuram abrigo
Na vã esperança de que o passado
Lhes deixem em paz por uma noite que seja
Longe do pico dos montes
À esquerda do nada que se esconde
Após a escuridão permanente dos sentidos dos homens
O leito úmido do mais Antigo dos Antigos
Aquele que espera seu tempo sonhando.


(Eduardo E.)


voltar última atualização: 07/07/2009
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