A Garganta da Serpente
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óleo

o olho caminha pelos ladrilhos
procuro o espelho
onde não está mais
(mais uma vez
traído pela memória)

a casa antiga
insiste em
esconder-se nas paredes da nova

como se seus escombros enterrados
mantivessem-se vivos
(a custa de parcas lembranças)

as sombras macias do tempo
de seus fantasmas com cheiro
de sal
(um mar no interior de cada aquário)

enganam-se todos
que acreditam em memórias pétreas
estas traíram a palavra
e a palavra é tudo que nos resta
esta língua inchada de versos apodrecidos
que tem de serem extirpados com regularidade

a calva branca das letras
ósseas nadadeiras de celacantos
esquecidos de serem extintos

as noites mal dormidas de pesadelos
e esta palavra que brota do chão
como óleo negro

a alma da casa nova
às vezes se adoece da sepultada


(Edson Bueno de Camargo)


voltar última atualização: 23/05/2017
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