A Garganta da Serpente

D.H. Lawrence

David Herbert Lawrence
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Amendoeiras molhadas, à chuva,
como ferros saindo tenebrosos da terra;
troncos pretos de amêndoas, à chuva,
instrumentos de ferro, retorcidos e medonhos, saindo da terra,
saídos da suavidade profunda e macia do verde inverno siciliano,
erva incomestível da terra,
troncos de amêndoas pendendo escuros, pretos como ferros, ao longo
das encostas.
Amendoeira, abaixo da vedação do eirado,
negro tronco de ferrugem,
soldaste ainda melhor os pequenos rebentos,
como se fossem de aço, de um aço sensível exposto ao ar,
cor de cinza, alfazema, aço sensível pendendo fraco e frágil numa
parábola.
Que fazes aí à chuva de Dezembro?
Terás alguma estranha e elétrica sensibilidade nas tuas pontas de aço?
Sentes no ar a indução elétrica
como certos aparelhos elétricos igualmente muito estranhos?
E recebes mensagens, em códigos também estranhos,
dos lobos sanguinários que espalham eletricidade e rondam
constantemente o Etna?
Recolhes do ar o murmúrio do enxofre?
Ouves as químicas evidências do sol?
Telefonas a dizer do rugido das águas sob a terra?
E com base em tudo isto fazes cálculos?
A Sicília, a Sicília de Dezembro sob a chuva intensa
e os ramos de ferro, negros de ferrugem como velhos instrumentos
retorcidos
brandindo sobre a terra e fustigando a suavidade invernosa da terra, ao
longo das encostas
de um verde macio e incomestível!


(D.H. Lawrence)


voltar última atualização: 20/03/2005
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