A Garganta da Serpente

Daniel P.R.

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Tudo

Eis tudo: nada.
E por que não seria nada?
Por que seria algo?
Por que alguma coisa realmente teria importância?
Por que haveria de haver um sentido?
Há no máximo destroços destroçados de um nada partido.
Há como que uma névoa caótica sobre todos nós.
Há uma falta de motivo para se falar "bom dia".
Há tão pouca coisa,
e elas são tão pouco importantes,
que nem me lembro o que são...
logo, acho que fantasio tudo o que digo.
É isso, fantasio demais.
Mas também, não há muito mais o que fazer.
Não há grande diversão a ter.
Talvez o melhor da vida seja usar a segunda pessoa
e conjugar o verbo na terceira;
ou sujar os dedos com tinta de caneta;
ou morder a boca e sangrar como sei lá o quê.
Ou talvez outra coisa...
mas é que realmente não importa, entende?
Literalmente não importa
(que eu esteja aqui e você aí;
que eu virgule isto ou aquilo;
que eu durma para acordar ou não).
Sabe? estou falando sério,
tão sério como nunca na minha vida falei:
transcendentemente não importa.
Não importa se deixei de amar ou amei,
e também não importa se foi alguém ou ninguém.
Não importa que eu não saiba distinguir sentimentos...
nem que a única janela da única da casa do único mundo esteja fechada.
E por que não seria assim?
Não há motivo para não ser assim.
Nem há motivo para haver motivo.
E principalmente, não há motivo nenhum para este irrelevante poema.
No final das contas, de todas incontáveis contas,
não há motivo para nada.
Entende? nada.

(24/06/02)


(Daniel P.R.)


voltar última atualização: 07/07/2003
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