A Garganta da Serpente

Sarah D.A. Lynch

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Exegese

Há pessoas
- e ah, como são desprezíveis! -
de quem escondemos a face
viramos a esquina
deletamos da tela.
Há pessoas
que vivem nas arestas
nas frestas
nas pedras
nos rochedos escarpados.
Há pessoas
- e ah, como são solitárias! -
que criam novos mundos
sistemas
significâncias
porque não os há
em seu escuro.
Definham-se em impotência
perdem-se no turbilhão
e morrem sós
despidas
descalças
desvairadas.
E de repente
sua luz atravessa o espaço
desde o turbilhão
- onde definharam -
o escuro
- onde morreram sós -
e somos mergulhados em harmonia
em traços
matizes
movimentos
e os homens as vestem de glória
- a que nunca tiveram -
de honra
- abaixo da qual viveram -
e ah, como invejam-nas!
Sem o escuro onde foram sós
sem o turbilhão onde definharam
os homens tentam atingir sua glória
- aquela que não tiveram -
chegar à sua honra
- aquela que lhes foi negada -
e fracassam.
Porque o diamante
se forma da pressão das arestas
das frestas
das pedras
no íntimo dos rochedos escarpados.
As estrelas
brilham na imensidão do escuro
na solidão do espaço
no âmago do turbilhão de galáxias
e auto-aniquilam-se
de dentro para fora
em explosões
incandescência
no exaurir do sopro.
Sim, há pessoas
- ah, como são desprezíveis! -
que são estrelas da solidão
diamantes
de indignidade.
E tu
que temes a solidão
que desprezas a indignidade
inveja-as!
Pois abre-te!
Aprende a abraçar o escuro
o turbilhão!
Aceita perder-te
para poder criar!


(Sarah D.A. Lynch)


voltar última atualização: 23/02/2011
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