A Garganta da Serpente

Cynthia Oliveira

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Onde está o que procuro?

O amor entrou em mim
E me deixou tonta:
Eu não sabia a quem amar.

Fiquei assim, sem ter porquês,
Perdida em meus devaneios
Confundi meu ser com outro ser.

Julguei ser de outro o meu amor.
E me entreguei por tantas vezes,
Dei meu ar em tantas vozes,
Usei meu corpo em tantas cores;
Senti dores de amores.

Nunca fui correspondida,
E quando era, confundia meus dias.

Mal conseguia entender.
Sucumbi, por fim, sem ter a quem,
Ou porque persistir.

Fiquei só mais uma vez
Sem ter o amor de outro em mim.
Larguei meus ossos
Em uma esquina qualquer.
Vazia de mim,
Respirei solidão.
Meus olhos quebrados,
Meus sonhos cegos.

Fui alvo de meu abandono,
Julguei-me tola e incapaz
De ser alguém por não ter par.

Não fiz elo com ninguém
Ou casei ou tive filhos;
Mal comunguei sentimentos,
Nem fiz outros casamentos;
Não fiz nada além de ser.

E achei que era o fim!
Fim do dia e da esperança.
Um décimo do que nunca fui.

Olhei o céu e vi a luz
Ceguei-me para não me enxergar.
Deixei de olhar meu ventre
Deixei de ser meus olhos
Deixei de me amar.

E só então ouvi respostas
Sobre o amor que está em mim:
Não é de outro o meu calor
Nem de ninguém tudo o que tenho;
Só em mim e em ninguém mais
Posso ter o amor que sonho.


(Cynthia Oliveira)


voltar última atualização: 29/08/2006
10455 visitas desde 25/07/2006
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente