A Garganta da Serpente

Cynthia Oliveira

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Migalhas

Só consigo ouvir a dor de minhas dores
Quando em estradas correm,
Ao vento,
Almas esmigalhadas
Por poderes incompetentes,
Fome ou desamparo.

Ouço tantas outras almas
Desconectadas da realidade
E presas em si mesmas:
São meus amigos e outras vidas vãs.

Não vemos o universo de desolação.
Egocentrismos observam corpos
Esfacelados mundo afora:
Mãos que nada conseguem fazer.

Sentimos o gosto do sangue
Em nossas faces
Ante a inapetência de gestos
Práticos e imediatos
Quando bastaria um afago
Em qualquer carência.

Nossas mãos consomem nosso tempo
Com gorros de lã
Tão grandes que cobrem nossos olhos.
E não vemos nada,
Além de nossa pouca luz.

Não sentimos, da janela distante,
A mão estendida
A pedir
Amparo,
Alento
Pão.

Parto o pão em mil pedaços:
Migalhas nos pátios
para pombos famintos

(Poesia classificada no concurso "I Mostra da Poesia Carioca, Troféu Moacyr Félix"
para participação na Coletânea - 80 Poetas do Rio - Antologia Poética - em 1998)


(Cynthia Oliveira)


voltar última atualização: 29/08/2006
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