Migalhas
Só consigo ouvir a dor de minhas dores
Quando em estradas correm,
Ao vento,
Almas esmigalhadas
Por poderes incompetentes,
Fome ou desamparo.
Ouço tantas outras almas
Desconectadas da realidade
E presas em si mesmas:
São meus amigos e outras vidas vãs.
Não vemos o universo de desolação.
Egocentrismos observam corpos
Esfacelados mundo afora:
Mãos que nada conseguem fazer.
Sentimos o gosto do sangue
Em nossas faces
Ante a inapetência de gestos
Práticos e imediatos
Quando bastaria um afago
Em qualquer carência.
Nossas mãos consomem nosso tempo
Com gorros de lã
Tão grandes que cobrem nossos olhos.
E não vemos nada,
Além de nossa pouca luz.
Não sentimos, da janela distante,
A mão estendida
A pedir
Amparo,
Alento
Pão.
Parto o pão em mil pedaços:
Migalhas nos pátios
para pombos famintos
(Poesia classificada no concurso "I Mostra da Poesia Carioca,
Troféu Moacyr Félix"
para participação na Coletânea - 80 Poetas do Rio - Antologia
Poética - em 1998)
(Cynthia Oliveira)
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