A Garganta da Serpente

Condessa de Lis

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Coisas Que Eu Não Quero

Então estamos de acordo
Eu e minha consciência
De que o tempo é estorvo
E não tenho mais paciência
E que de que no meio de tanta balburdia
Entre um ato e um desalento
Tem o que não sei dizer
E aquilo que não posso ver direito

Decido mais facilmente
Então o que não quero ter
Posto que a lista do quero é infrutífera
E cheia de tópicos que nada querem dizer

Não quero mais ter que olhar meu rosto no espelho sem saber quem é aquela...porque ela sou eu e ao mesmo tempo é milhares de outras em roupas, olhos, cabelos e épocas diferentes.
Não quero mais comer nada além de frutas, porque assim talvez eu não me enjoe tão fácil quando olhar para o inferno que está ao meu redor.
Não quero ter que me explicar para mim mesma quando eu não tenho as respostas e as perguntas são confusas.
Não quero ter medo do que vou descobrir quando abrir os olhos no meio da noite ou de quem eu vou ver em meus sonhos quando estiver dormindo.
Não quero acreditar que alguém esteve cuidando dos preparativos do casório enquanto planejava meu enterro.
Não quero ter que colocar meus óculos para ler, e escrever e ver o mundo pela manhã.
Não quero ficar sem dormir de noite com o pensamento vagando por um precipício escuro e frio.
Não quero brigar pra poder ficar com meus amigos.
Não quero que meus amigos vejam o que aconteceu comigo.
Não quero que todos tenham pena do que está acontecendo na savana
Mas também não quero que se sentem e finjam que nada está acontecendo
Não quero apenas palavras de consolo e votos de que tudo ficará bem...um dia.
Não quero parecer louca para mim enquanto que para os outros está tudo normal
Não quero ser como os outros.
Não quero escrever meu testamento, mesmo ele já estando formulado na minha cabeça.

Justo é e fica assim então
Que escrevo tudo que não quero
Para dizer-lhe o que quero
E você me ajudar dando a mão.

(B.P. - Setembro de 2005)


(Condessa de Lis)


voltar última atualização: 25/10/2005
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