A Garganta da Serpente

Coelho de Moraes

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UM CORPO FANTASMA

Errância
Meu amor é único
mas sinto uma difusão do desejo
errando até a morte
de amor em amor

Mas terminará, um dia, o amor?
O corpo inefável desaparecerá
para sempre
algum dia?
O fim está mascarado pela inocência
parecendo coisa eterna
que passa de Amor a Amizade
mesmo que eu não o veja dissipar-se

Barulho imenso
de repente o silêncio rompe auroras
No começo um clamor
de repente um nada sem brilho

Poetas de começos
Platéia dos fins
Não construo a minha história de amor
vejo e aspiro
suspiro e sucumbo
mesmo piscando os olhos
Bato palmas para o ato que acaba
mesmo sabendo que as cortinas se fecham sobre mim

É através do amor
que se chega a uma outra lógica
São instantes verticais
de amores suspensos
São volúpias absolutas
instantâneas a sabor de morangos
Sons sem memórias
Amores esquecidos do que o precede
numa sucessão de acordes desventurados
Fugas indômitas sobre cavalos noturnos
e esse suar imenso que me transborda mares

Pode-se renascer sem morrer?
As mesmas cartas serão escritas para outra mulher?

A errância do amor é uma dança de palhaços
Rápida ou lenta
em função da pessoa que trai ou sai
mas pode ser drama completo sem pausas
donde aparece Dionísio, novamente
fazendo eclodir as trombetas
em peripécias de uvas e bacanais

Erra-se pelos mares e pelos ares
Procura-se a mulher eterna
o amor que o envolva em abraço imortal
Erra-se por causa do inequívoco amar
Marca imposta desde o começo dos tempos
na procura dessa Lilith desaparecida
pedaço que a mim completa

De qualquer forma
corpo avesso ao sólido
há um deus imaginário
que me persegue mesmo invisível
que me afligiu
com a compulsão da fala
que não responde aos meus pedidos
Muda-me a cor
mas não me muda a igualdade
O quadro é o mesmo
o tom cambia
escolhe-se a tinta
a nuance porém
pode ser a mesma


(Coelho de Moraes)


voltar última atualização: 29/11/2007
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