Ácido
I
O veneno misturou-se ao meu sangue,
Pelas narinas entra o cheiro da morte,
O ácido destrói tudo, é muito forte,
E lentamente a vida se exangue,
Resta-me apenas a tênue lembrança,
De ti que sempre foi o meu refúgio,
Meu pecado, meu erro, meu subterfúgio,
A minha desdita e maldita herança,
Eu não sabia viver sem ti,
A vida me ensinou, mas não aprendi,
É por isso que agora saio de cena,
Por não suportar o teu desprezo,
Por não resolver, há muito não rezo,
E nem quero que ninguém de mim tenha pena.
II
Agora que está tudo consumado,
Que eu não poderei mais sobreviver,
Deixo-a totalmente livre para viver,
Que eu por ti nem seja lembrado,
Este meu ato triste e tresloucado,
Que no ímpeto da dor eu fiz acontecer,
Jamais nesta vida eu vou esquecer,
E vou para a eternidade bem complicado,
Pois se há algo que alguém trucida,
É a realidade do suicida,
Que foge da vida covardemente,
O fato é que poucos resistem,
A perda do amor e logo desistem,
Sem esperanças que amor volte novamente.
III
Ficou gravado em minha mente,
O seu sorriso zombeteiro e irônico,
A humilhar um humilhado crônico,
Que agora não é nem rastro de gente,
O desespero que o meu ser devora,
Como se o meu corpo ardesse em chamas,
O lenitivo do seu amor reclama,
Para curar de todo o mal agora,
Mas, não foi o que aconteceu,
O meu corpo envenenado padeceu,
Depois de muito se contorcer fico plácido,
Eu vi você ali, assistindo,
Num cantinho da boca, sorrindo,
Destilando, em seus olhos, o puro ácido.
(Cobra Cipó)
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