A Garganta da Serpente
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Clarissa M. Bones

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SAUDADES

Às vezes sinto falta das coisas que passaram.
De coisas que eu tive
E da pessoa que eu fui.
Sinto saudade da criança ingênua
Que não precisava parecer nada;
Tinha apenas que brincar.
Brincar de estudar, brincar de rezar,
Brincar de viver.
Subir em uma árvore e acreditar que ela era só minha.
Pular lá de cima e ter certeza de que não iria me machucar.
Ir deitar à noite e ter como única preocupação
Algo bom para pensar até adormecer: uma aula de balé, mochila do Mickey, moedas de chocolate.
Orar e não ficar com dúvida nenhuma:
Papai-do-céu está escutando. Ele sempre escutava...
Ter alegria infinita com coisas muito pequenas:
Um café batido e espumante, uma música do Raul Seixas
(Pluct, plact zuuum !!!)
Uma grande cesta de doces na manhã de Páscoa,
andar de "bice" no domingo...
Só que crescemos, e tudo se estraga.
Passamos a ser o que parecemos e
Deixamos de parecer o que somos.
Não sabemos mais brincar e tudo que fazemos
É por pura obrigação.
Não vivemos: sobrevivemos !!
As árvores perdem o encanto e
Não tomamos mais banho de chuva.
Quando nos deitamos,
A cabeça nos pesa e tudo que não temos
São pensamentos bons.
Deixamos de rezar quando descobrimos
Que existiu a Santa Inquisição
E começamos a achar o céu
Um lugar muito monótono...
A Páscoa perde a graça
No dia em que encontramos um garoto mexendo no nosso lixo...
Os passeios de domingo são suspensos
Já que papai vivia de ressaca.
É impossível não ter saudade
Do tempo em que eu não sabia!
Era bem melhor quando eu não sabia
O quanto dói sentir saudade !!


(Clarissa M. Bones)


voltar última atualização: 27/09/2000
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