A Garganta da Serpente

Cíntia Melo

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Mulheres, mulheres...

Meus cantos vagueiam no tempo.
Um abismo se forma a minha volta.
O passado pesa em minhas costas,
com uma saga de algumas vitórias
e tantas outras derrotas...

O templo sagrado me aguarda,
entre desertos negros e ilhotas,
brumas densas e terras perigosas.
Vibro por trilhas retas e tortuosas
ao caminhar com meu povo, minha raça...

De mulheres árvores
Mulheres que amam
Mulheres serpentes
Mulheres que sofrem
Mulheres, mulheres....

O fogo interior crepita em labaredas sombrias,
a magia ressurge num trinado de vozes doces,
o firmamento vira fluido, estrelas caem,
a Lua Tríplice se revela entre tantas faces.
Vou lendo entre as falésias os seus sinais...

Seguir as pegadas da Divina com minhas amigas
é minha lenda que se traduz numa busca infinita.
Um porto de alegria num mar de lágrimas cingidas,
promessas de glórias e uma força misteriosa
que me faz dançar com minha tribo, minha raça...

De mulheres águias
Mulheres que choram
Mulheres guerreiras
Mulheres que cozem
Mulheres, mulheres...

Tem muita poeira solta no ar,
açoita e mareja os olhos,
cristaliza lágrimas reprimidas,
num espelho de mulheres refletidas,
quando a realidade se agita...

As lanças do medo e da fraqueza
trazem uma sangria profana,
confundem-se com feitiço que ilude
vencido por quem acredita na Mãe.
O que me faz celebrar com minha raça...

De mulheres tigresas
Mulheres que parem
Mulheres caçadoras
Mulheres luas e estrelas
Mulheres, mulheres...


(Cíntia M. Melo)


voltar última atualização: 13/09/2006
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