A Garganta da Serpente

Cíntia Melo

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Ventos lobos

Que vento estranho esse,
levanta os meus cabelos
num açoite por inteiro...

Matilha ritmada
de lobos envenenados,
em vórtices iluminados...

Que mensagem assopra aos meus ouvidos,
trazem os estampidos dos tambores...
Eles me levam solta para o mundo remoto.

Que busca incessante essa minha,
parece um portal do tempo,
onde sinto tudo de outro jeito.

Vivo uma atlante instigante,
a egípcia alucinada,
uma cigana errante.

Que desejo louco, instinto mascarado!
Uma mulher rósea de aroma adocicado,
olhos perdidos num infinito nunca visto.

E tudo aflora como um redemoinho.
É a revolta espasmódica da natureza,
que dá e cobra o preço de tudo em volta.

Que os deuses me chamem!
São os clamores de um tempo que se foi.
Saudades ou resgate, não sei...

Que viagem essa!
Chego aos tempos imemoráveis,
aos antepassados venerados,
aos deuses esquecidos e amados.

Vivo uma índia encantada,
uma mãe que chora sua filha,
uma escrava sofrida.

Passo pelo portal de ouro.
As insignes se mostram,
assim, meio nebulosas,
de uma dialética majestosa.

Os tambores me trazem de volta.
Que ventos lobos levam e trazem,
numa rápida viagem tantas vidas
em apenas uma miragem...


(Cíntia M. Melo)


voltar última atualização: 13/09/2006
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