Lamentos e a Fênix
A lâmina atinge meu peito,
suas duas faces cortantes
rasgam minha carne.
Uma faz sangrar, a outra, delirar.
Navego num mar sem rumo,
o desespero me domina.
Nas noites azuis, enfrento
uma aventura de outro mundo.
A dama do mar canta e a ouço,
no caminho de muitas voltas,
sóis iluminam meu espectro,
luas glaciais apontam meus erros.
Uma senhora e três caminhos,
escolho o iluminado, mas é o abismo.
Foi ilusão falseando sentidos.
Onde está mesmo meu corpo?
Gritos reverberam: queimado, queimado...
A minha volta, rostos desdenham-me,
no submundo de Hades, a sagrada verdade.
O preço da ilusão e a chance da fênix.
O barqueiro leva-me em cinzas
pelo rio caudaloso dos lamentos.
Renascerei outra vez em setembro,
e do eu interior nunca mais esquecerei...
(Cíntia M. Melo)
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