dois dias antes de morrer
lavrou o campo
com o velho arado.
o meu pai via do escritório
passar os funerais
a caminho do cemitério da cidade.
havia nessas figuras austeras
algo de semelhante
a um outono de alma,
negro e cruel.
passados anos,
eu pensava como aquele pintor
diante dos caixões de pinho
levados aos ombros:
é assim que o meu pai me quer.
(Poemas do livro "Escrever foi um engano")
(Carlos Saraiva Pinto)
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