A Garganta da Serpente

Bioque Mesito

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NADA DO CALENDÁRIO

o que vejo nas criações humanas é uma incógnita
todos sempre esperam eu dizer alguma coisa inversa
minha vida é o estereótipo de um filme cult de godard
às vezes medito no sofá depois de uma bela transa
com três ou quatro fêmeas alucinadas
sem nenhum escrúpulo possível
enfio tudo bem devagar em suas bocas fumegantes
sussurrando por mais e mais e mais

umas três vezes o sol caminha meio mórbido por mim
pelas manhãs ouço os sinais do apocalipse
contaminando meus olhos de dúvidas
nem mesmo o terceiro pacote de carta à madré me revigora
nesses momentos de intensa treva
sou ilimitado quando corro pelos campos
atrás do infalível decote das brejeiras cunhãs
embriagado pela ânsia de lamber seus sulcos

eu que venci os dublês de mim mesmo
agora estou mais lúcido posso voar
sem cair no mito das enganadoras paixões
não desisti de observar para trás
o silêncio que assaltou meus sonhos
tudo que desconheço é o que me alimenta de verdade
há uma guerra involuntária acontecendo
dentro de meu rim direito


(Bioque Mesito)


voltar última atualização: 05/11/07
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