Cotidiano Selvagem
Das esferas obscuras e sinistras das quais nasci
percebi um alento letárgico que tomava meu peito
Vi e ouvi hinos e canções de fazer dormir
enquanto sentia meu corpo atrofiar em meu leito
No espaço inócuo e vazio em que olhei minha infância
ganhei em meus braços as marcas brutas do mundo
Hoje vejo em que lugar me tornei criança
com esse espírito sujo, lamuriante e moribundo
Depois que sai do meu quarto para fazer novos amigos
Me armei de palavras e ideologias bélicas pra me defender
pois eu sabia que acharia pelo caminho inimigos
e que eles viriam pra tentar me derrubar e enlouquecer
Na maturidade máxima na escola dos dias penosos
em que tive de suportar a injustiça dos humanos
Aprendi a usar as falas e gestos venenosos
e as armadilhas de guerra dos espartanos
No fim desta longa estrada na qual fiz a jornada
observo lúcido e pálido a escritura da minha sepultura
Penso e revejo o revés daquela caminhada
e sinto que minha dor trouxe minha doce ternura
(14/02/05)
(Azrael Crowley)
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