Agradeço à vida tudo que me fez,
cada vez que cai, ali estava o acaso estendendo a mão
na ponta de um braço que de vários fez parte.
Me especializei em riscos inúteis, tarefas inférteis.
Atrás dos muros do que parecia ser eu, me escondi e fiquei,
espreitei pela fresta o burburinho da festa e dei de ombros,
fazendo de conta que não era comigo e me voltei a mim mesmo.
Aprendi muita coisa inata ao inferno interno em nós todos
e o certo gritante é que ele é externo, não veio conosco,
é imposto,
foi posto em nós pelos pais e avós que tivemos.
Gentil, carinhoso, doce e sereno é o fundo de todos,
mas somos vis, odiosos, amargos e loucos por tanta sandice
que nos foi embutida por quem nos devia ensinar
a viver simplesmente, feliz e contente.
Curvar-me a quem nem estava ali, sempre um ausente,
que tudo pode, tudo fez e deixou como está,
foi somente a primeira humilhação que me impuseram,
só depois me vieram com pátrias, bandeiras e outras bobagens.
Sou Humano e com todos os erros que tenha, nasci num planeta, não num
país.
Sou filho da Terra e seus ciclos e estou somente a serviço da Vida
e não de algum Senhor de Exércitos.
(Arnaldo Sisson)
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