Astro maior na aventura da vida,
de quem meus pés sentem, no caminho que faço,
a carícia de cada passo. Barca do efêmero!
Em efemérides cíclicas, espécies se excederam em domínio
e as subjugaste a todas.
E assim irás fazendo até que uma destas crias te entenda e se
aceite feliz por companheira,
passageira pelo tempo inteiro da viagem.
E serão crianças
quando amar for rabiscar, distraídos,
o nome um do outro na areia quente de uma praia qualquer.
E serão grotescos e ainda mais belos
quando o amor for selvagem, e a entrega de um, quando se der ao outro,
for presente de prazer, ternura, carinho que arranha, morde, sussurra,
grita, geme, goza e é feliz.
Na terra ainda não vista onde irão cumprir a sina que tiverem,
como bichos brincando de viver, provando de todas as frutas
e de tudo que há, estarão, não em paz, mas em harmonia
com tudo.
No rosto quase sujo, de criança que fugiu, a sabedoria de obedecer ao
acaso
e a graça de andar como quem passeia em seu pedaço de vida
com a nobreza de não permanecer.
Como os deuses que não terão, saberão do existir apenas
que é bom
e faz parte de algum propósito qualquer, que nunca vem ao caso,
mas que por bom deve ser justo e avançar de modo próprio
com a pressa que se dê.
Se acontecer pensar, depois de muita chuva, nos raios e na voz alta que eles
têm,
a cumplicidade de quem vê fatos sem fantasias, vai mostrar que são
como tudo.
A luz que rabisca o céu e o barulho que faz tem um lugar exato no que
existe
e, tanto quanto eles, que podem rir e às vezes chorar por tombo ou espinho,
são também pedaços da justa e exata mistura da qual também
fazem parte
todo o som e toda a luz, todo o tato e todo o gosto e assim de toda arte
em cada ato que lhes couber cumprir sobre um planeta que enfim,
pouco se lhes dá que gire ou não, rumo a sabem lá que fim.
(Arnaldo Sisson)
|