O Passado, este senhor que a nós todos criou,
é um tempo onde só os outros eram velhos e tudo era grande, tudo
misterioso,
mas já não vem a nos ralhar e nem brincar de roda ou cabo-de-guerra.
Tem a magia indefinida de tudo que podemos lembrar com prazer e gosto,
de quando melado era bom de se fartar e sujar o rosto até ficar doente.
É um tempo que muda cada vez que se conta como foi
e se pode fingir que foi bom, feliz e breve,
mais do que talvez possa ter sido.
O Presente é, destes Senhores da Vida, o mais honesto,
não blefa, é real, acontece e não se faz esperar e nem
lembrar,
ilumina tudo com gestos, festas, tarefas e está sempre aqui. Agora.
Verdadeiro, é quem alimenta o passado com acertos, erros e crimes
e todas as coisas que de tão imaginárias passam por reais e acontecidas.
O Futuro, bem, você sabe, fica logo ali, onde todos morremos,
mas também é sempre criança, não fala, não
lembra, só balbucia esperanças
e, se quiseres, é um lugar onde vais me encontrar quando souberes cantar
uma daquelas canções que não fiz nas manhãs de ontem
e nem as farei
nas tardes de hoje, porque certas canções
a gente só faz quando anoitece.
(Arnaldo Sisson)
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