A Garganta da Serpente

Arlinda Lamêgo

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Ser poeta

Faço versos pra me sentir viva e respirar ao versejar.

Meu viver é poetar .
Se brilhante fosse,
Usaria esse direito, no zelo e na maestria.

Traria, no meu poema,
A mensagem de um dilema a decifrar.

Na minha arte, no dom que Deus me deu,
Não cultivo dores.
Ao compor, tenho prazer na rima livre.
No meu canto , por enquanto,esqueço a métrica.
Entretanto,
A cadência dos meus versos , sei, não é perfeita.

Quem me conhece vê,na minha obra ,o quanto eu minto,
Com consciência de que falo o que sinto,
E não como ciência.

Ser poeta é despertar .
Não existe poesia certa.
Cada poesia é uma lição de inspiração.

Na mente,
Falo de tudo o que sinto e pressinto.

E falo com o coração.

Sou franca:
Não basta só métrica e rima, num texto, pra ser poesia.

Precisa , amigo,o amor, além da rima .
E poesia,que embora rime,é sentimento de valia.
Apenas o teu sentir.
Precisa despir-se de razão.
Precisa flutuar.
Precisa doar-se de verdade,
Colorir versos com amor,muito amor.

Versos , amigo, só de amor se alimentam,
Pra inventar universos.

Pra ser poeta,
É preciso criar espaços encantados em qualquer lugar:
Na praia, na rua,na presença da lua.

É preciso rasgar o peito de alegria ou com a alma em agonia.

Ser poeta é um versejar.
Encontrar poesia, onde poesia não há.
Ser poeta é ser fingido.
Fingir sentir dor, que já nem sente.
Ser poeta é ousar.
E tão sentido, dolorido,dizer o que sentiu.
Ah, ser poeta é a expressão do eu total.
Acordar platéia adormecida para arder de paixão.

Ser poeta é cantar a esperança.
É sentir aroma ,onde nem flores há.

Ser poeta é conciliar pesares e dissabores,
Com um sorriso de criança.

E, em cada instante ,
Ser amante de tudo que existe e o que nele há.

Poeta é sentir,
Compor sinfonias ,
Cantar melodias,
Com notas e movimentos,
Num eterno soar de poesia.

Ser poeta é viver nas nuvens,
Ser amante da lua,
Vagar nas ruas ,conversando com as estrelas.
É ter um céu azul ,
Tão azul que,
De azul ,azul não há.

Ser poeta é flutuar no tempo, na fantasia .
Ter varinha de condão,
A transformar encantamento.

Ser poeta é viver o presente, passado e futuro,
A cada momento.

É cantar o canto, no encanto ,e encantar.

Ser poeta
É colher flores e dores
Nos amores que , às vezes, nem existiu.
E, sem que nem porquê,
Ao ficar nua, ir lá nas entranhas
E arrancar versos sem nenhum constrangimento.
Sobreviver ,sem saber se ama e,
Enquanto ama,
Sofrer e chorar, sorrir e se alegrar

Ser poeta é ver a vida em desacerto,
Sem medo de ser poeta.


(Arlinda Lamêgo)


voltar última atualização: 01/05/2006
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