A Garganta da Serpente

Arlinda Lamêgo

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O MEU MANDACARU

Esse mandacaru que me fascina, não é um cacto qualquer.
É a planta da caatinga que roda no mesmo eixo.
É o personagem do sertão, símbolo de sentinela, emblemático.
Observador mudo, solidário e solitário, um marco.
Na necessidade de existir, é altivo, independente,carismático,
Fora e dentro da história , ele nunca sai de moda.
Nele, a história está contada.Vive, sem nunca pedir nada.
Floresce por muito pouco. Amigo que nada pede.
Como eu, um retirante, um pau-de-arara, agreste.
Nem água.Ah...mandacaru! Cabra da peste!
Ali está ele:o meu Nordeste. .Resiste,insiste, persiste.Existe.
Perseverante, teimoso, cachorro-da-moléstia.
Com braços abertos, não pede socorro.Não se faz de coitado.
Está ali pra abençoar, marcar presença. Sozinho, criar paisagem.
Aprendeu a ser, a ter feições permanentes.. Lá está ,
Como uma cruz, lição de viver,lição de vida.
O meu mandacaru me protege e me faz companhia.
Símbolo do deserto, solidão , dignidade.
O cangaço está na memória.Resiste a todos ataques.
Cumpre ordem:obedece.Sobrevive, porque viver é uma ordem.
No sentimento de coragem,não há tempo romantizado.
Lá está , desperto, em vigília, todo esperanças.
Definido. É. Apenas é! Definido na cor, no jeito de ser.
Vã filosofia, vive no nada, no sol, no vazio.
Personalíssimo, o meu mandacaru, sozinho, faz ambiente.
Dá diferença, se impõe, sem disfarces nem enfeites.
Que me faz acreditar em salvação.O meu mandacaru é como eu,
Teima e resiste, que prefere viver.Que roda na mesma roda,
Que gira no mesmo giro a roda que roda o mundo.
O mundo que gira mundo, no mundo que gira e, girando,
Exemplifica o marco que marca a roda .
Ah, mandacaru !Floresce, faz chover neste sertão.

(27/10/2004)


(Arlinda Lamêgo)


voltar última atualização: 01/05/2006
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