há uma rosa no meu peito
tenho um apresso incompreensível por essa fatalidade que é a
vida
impossível suprimí-la do meu projeto
pesar de sentir-me pequeno ante o desafio de exortá-la
fazer-lhe a necessária e urgente apologia
valorizá-la perante um mundo gigantesco e titânico de mecanismos
fomentadores da permanência das ilusões
da passividade
um medo de que esse absurdo que é a vida
e a existência humana dentro da vida
sucumba
permaneça subjugada e alienada
ante a ignorância
titânica
que rege os nossos dias atuais
o meu para-sí não cansa
nem me acobarda
preciso sempre
organizar-me ante as premissas
este projeto não me solta
não me larga
não me dá outras alternativas
a vida assalta-me a cada novo segundo
e sempre que a nego
ela só ri
me cospe na cara
meu beija
me empurra
me lambe
me goza
meu projeto é um enigma urgente
decífra-me
ou devoro-te
o mesmo e singular
enígma
que há 5 milanos
animava os contemporâneos do nilo
esse rio-veia de gáia
mistério que 5 mil anos no futuro
traduzirão os átomos
e sigo assim
..
cambaleando
segurando os meus pedaços
.
que vão despencando dos meus ossos
fragmentos decompondo-se de meus dedos de minhas mãos de meus braços
querem reunir-se uma vez mais a terra
como se o meu tempo fosse sempre
passagem urgente e inevitável
ephemeridade
sigo
aos trancos
mas não vou como a alice
escolhendo qualquer caminho
eu sigo uma coordenada
um presságio
um norte
uma idéia milenar
intuitivo desde o princípio
prestes a alcançar o umbral
sempre
prestes
vou no rumo de um propósito
um constructo humano
demasiado humano
idéia passageira
singular
de que nossas vidas
são missões irrecusáveis
carrego em meu peito
uma rosa
e um cruz pertinaz segue os meus passos
obstinada e furiosa
anseia destronar
minha própria sombra
(Andrey Mozzer)
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