Luzes da Cidade
Luzes da cidade, porque estais sempre distante?
Porque me deixas aqui tristonho e sozinho?
Queria lembrar-me apenas de um único e breve instante,
No qual eu tenha encontrado o sucesso no caminho.
Sempre mantenho esse meu olhar sem expressão e cabisbaixo;
Pois penso que nunca chegou minha regozijante hora;
Muito menos espero que chegue agora;
Vejo, então, apagar-se meu último e mais ridículo cigarro;
Então o sol nasce nesse belíssimo horizonte!
É hora de despedir-me de mais um amigo solitário;
Vou dormir com meu ferido coração distante;
No lugar perfeito no qual queria que ele tivesse estado;
Os outros, felizes - cansados! -, se entregam;
Mas junto eles seguem, juntos eles vão;
Tomados de ventura e com seus corações na mão;
Com a esperança que suas vidas não passem em vão;
Ó! Que almas românticas, que almas inocentes!
Entretanto, que almas felizes; que almas ingênuas!
Pois o amor sempre é uma delicada e maldita serpente;
Que nunca deixa impunes as deliciosas carícias suas!
(André Espínola)
|