O Veneno do Vinho
O veneno que tomo desta vítrea garrafa,
Não me faz tão mal quanto tu fizeste-me, senhorita;
Embriagando-me neste nublado dia, fizeste-me um nada;
Pegaste meu coração e o esmagaste, maldita!
Então agora enveneno-me deste quimérico vinho;
Para esquecer-me daquele teu formoso leito, teu ninho;
Repousando a cansada mão em teu seio; e
Tomado de volúpia eu delirar; e a saudade à morte levar
Esse vinho que transforma tudo em ouro;
Leva-nos flutuando ao mais formoso céu;
Faz de ti um tesouro mais precioso;
Quando misturado com a doçura do mel;
Então bebo-o; bebo-o até o fim;
Bebo-o degustando o seu sabor venenoso;
Até minha ébria alma no Letes cair;
E deitar-me adormecido em um sono gostoso.
(André Espínola)
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