A FÚRIA MILIMÉTRICAComo exprimir o que quer que seja, tocar o que a vista não veja, mergulhar ao cume impensado, enredado ao sentir calculado? Em que se espelha o vidro do cetim ríspido e lúgubre da aurora que
se desfaz
ao entoar do hinário monocórdico? um colosso de desespero se enreda no vento do nada da luz
a forma vence. Não há mais o que mirar, a luta emerge languida de algozes e martírios, de bufões e delírios. Seus passos rítmicos à luz opaca de um luar eclipsado, à luminosidade do lampião viscoso e elétrico....a sonda busca, o olho cria, o caminho se transforma em gemido regrado e tabulado, nas vias férreas da luxúria maquinal o tiro ao espaço se desfaz e refaz em torpores calculados o místico langor tem a exatidão da fúria milimétrica límpida como a esfera oculta da lua incandescente, o alvor da crispação obliqua se faz retilínea, se corrobora da insignia da realização. não há mais vasos.
existência morta do pulsar mais profano e casto estilhaço gasto
só há o caminho milimétrico ah, tatuem em minha testa um compasso, em meu peito um retilíneo brasão, em todo meu corpo a métrica e o cálculo, que já não posso mais não, não posso mais... só o compasso pode me unir ao outro, ao nos separar só separados, milimetricamente, nos podemos ligar dilacerados, lado a lado, sem nunca nos encontrar, blocos de mármore implodidos no cancro da úlcera que nos une à fita métrica da dança esquelética de corpos que ecoam em suas fronteiras, reverberando-se incessantemente num vazio sem resposta, apenas uma imagem, um contorno, uma faísca, milimétrica, outra faísca, métrica, um dorso analítico conquistado, subjugado e pilhado. Só nos resta a pilhagem, e nada mais a pilhagem métrica, e nada mais o escrutínio penetrante no planejamento inconsciente e exaustivo ah, dança pierrot, sua dança macabra dos corpos nus, que se chocam sem se tocar, que bradam sem se falar, que se retorcem na mais selvagem cópula milimétrica, analítica, teorética e prolegômena retorce escaravelho de argila, retorce a loucura mais lógica e coesa, o desvario calculado pelos deuses da lupa e do esquadro ah batalhas sangrentas da mais milimétrica assepsia (André Grillo) |