| EXPOSIÇÃOA poesia foi colocadano meio do passeio público.
 Quem deixou?
 A poesia e suas palavras.
 A poesia e as cores do filho da poesia.
 E ainda por cima
 sentaram uma poetisa
 no meio da calçada.
 No meio da vida.
 No meio do trabalho.
 Pior,
 no meio do descanso.
 Quem descansa
 com palavras incômodas bem no meio do passeio público?
 No meio do sábado?
 A poesia e o seu mal-estar.
 A poesia com aquelas lentes azuis...
 Só mesmo a poesia
 - essa desocupada-
 para achar que as pessoas
 têm tempo para poesia,
 A poesia e sua barganha com o tempo.
 A poesia se pintando para a vida.
 Justo a poesia, que nem sindicato tem,
 acha que pode ir por aí se dizendo
 só por ser poesia.
 E o menino pergunta:
 - Pai, isso é arte?
 E o pai nem responde.
 E o pai nem volta os olhos.
 No máximo, resmungará lá na frente
 algum monossílabo (mais que suficiente).
 A poesia e seu desperdício de palavras.
 A poesia e seus exageros.
 Tanto trabalho para se evitar a poesia caminho afora.
 Tanto custo para esquecer a poesia,
 e agora a poesia surge
 feito susto.
 E agora
 há de se desviar da poesia.
 Agora, se não cuidar
 é capaz de se tropeçar numa poetisa.
 Quem a colocou lá?
 Bem no meio do sábado?
 Bem no meio do passeio público?
 E pra ajudar
 e pra completar o quadro infame
 ainda chega o poeta.
 Quem deixou, meu deus, essa gente solta na rua?
 A poesia, o poeta e a poetisa.
 Não tendo amolado o bastante
 ainda eles querem se olhar nos olhos.
 Não fosse o incômodo suficiente
 eles ainda querem falar da vida.
 Já não bastasse o tudo mais
 eles ainda ousam se amar.
 Se amar bem no meio do sábado.
 Se amar bem no meio do passeio público.
 A poesia e essa mania de Amor.
 A poesia e sua queda pelo patético.
 Então o louco chega em meio à cena.
 O louco e sua graduação alcoólica.
 O louco e sua poesia doidivanas.
 Pergunta se a poetisa
 está esquentando a sombra.
 E a poesia se sente entendida.
 A poesia, enfim, se realiza.
 A poesia
 - já não era sem tempo-
 para descanso do mundo
 já pode se recolher.
 
 (Andréa Muroni) |