Do corpo ao Corpo
De dentro de um apartamento envidraçado
Vejo a tortura reincidir: ácida e sóbria.
Carregada por letras ambíguas e minúcias nevrálgicas
Sinto o grito negro atravessar corpos.
A gaveta que guardava a finalidade fora assaltada
destruída, devastada, imolada
E varridos do pátio todos os sentidos.
Ficou o órgão
O órgão azedo
Azedo e opressor
Aquele que constitui o humano, sustentando
uma fisiologia nauseante da queda
uma mancha mortífera disfarçada de ordem
um (des) acordo entre plasmas e significantes.
Desorganismar o organismo: eis o veredicto!
Provocar o escoamento do ser pelo ânus
Esvaziar o corpo e o discurso putrefatos
de toda silaba apodrecida no ventre
E então, o
Corpo-pássaro
Intensivo, limpo, singular
Produtor e produto da Verdade
Verdade íntima, nominal.
E, a partir da pele revirada
Do osso oblíquo
Do sangue fervente
Do nervo rebelado
Chegar ao pensamento livre.
(Andréa Lima)
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